ENTREVISTA: SEXY-FI (DF)

Por Jarmeson de Lima

“Nunca te vi de boa” é o nome do “primeiro” disco da Sexy-Fi, banda originária de Brasília, que alguns podem conhecer mais pelo antigo nome: Nancy. Na real, depois de inevitáveis mudanças em sua formação, a banda hoje em dia é bem Sexy do que Nancy. Conceitos inusitados para uma banda que é difícil de rotular. Com um som que tá lá perto tanto do Stereolab quanto do Fellini, o Sexy-Fi chamou John McEntire, do Tortoise (outra banda claramente identificável nas influências do grupo brasiliense) para gravar e mixar o seu disco, lançado pela Far Out Recordings e que chegou até aos ouvidos da MTV gringa. Aqui eles falam disso tudo, respondendo perguntas que você talvez sempre quisesse fazer, mas que nunca teve a cara de pau de dizer. Antes de ler a entrevista, aperte o play na música abaixo:

Primeiramente, a pergunta que todo mundo quer saber: por que a mudança do nome da banda e escolha por Sexy Fi? Por sinal, isso nao atrapalharia a banda no sentido de ter de ficar sempre se reapresentando ao publico como a banda sendo a “antiga Nancy”?
Praxis
: Cara, há muito tempo eu já queria um nome que fechasse mais com a identidade da banda. Dá uma olhada nas nossas fotos que você vai sacar. Aproveitei a última troca de integrantes pra fazer isso. A mudança de nome deu uma renovada, trouxe frescor. Acho que a coisa de nos apresentarmos como a “antiga Nancy” só foi preciso num primeiro momento e já ficou pra trás.
Diogo: Se você visse um ensaio de domingo à tarde, calorão, a galera já informal, sem camisa, Marlon de shortinho, aí você veria que não tinha nada de Nancy no som. A parada tava ficando sexy, fi.

Vendo o nome das faixas, noto que o disco carrega uma ironia e piadas internas sobre Brasília. É isso mesmo ou são referencias diferentes?
Praxis: A vida em Brasília tem uma presença muito forte no nosso imaginário, no jeito como a gente fala, se veste, nas festas em que a gente vai. Por que isso não deveria estar presente na hora de escrever música? Todo esse conjunto de referências é algo que os roqueiros daqui, principalmente, têm dificuldade em assumir. A gente não.
Diogo: Várias faixas do disco retratam um pouco desse sentimento coletivo muito comum de amor e ódio por Brasólia que vemos comumente entre aqueles que são daqui. Quando fiz minhas linhas de baixo eu me concentrei na nostalgia por uma época em que a molecada de Kenner brincava, azarava, e se batia em baixo dos blocos, tempo de bate-bola e gangues inspiradas em The Warriors, uma época um pouco menos paranóica. E no miasma que nos envolve como pessoas da nossa idade nessa cidade, a cidade do concurso publico, das vias de alta velocidade, a cidade em que você é visto como um elemento suspeito por andar na rua sem o propósito de se exercitar. Mas também a cidade do por do sol, do espaço aberto… me faz sentir claustrofóbico em qualquer outra cidade grande.

Como chegaram ao nome de John McEntire para mixar o disco?
Praxis: Sempre fui fã do Tortoise e um dia descobri que o John tinha um estúdio em Chicago, depois de ler uma entrevista do Broken Social Scene sobre o último disco deles, gravado lá. Além dos equipamentos, o que me atraiu no John foi o fato do cara já ter uma boa relação com a música brasileira e curtir uma experimentação. Trocamos emails durante uns meses e em julho do ano passado fomos pra Chicago gravar. Depois voltei sopzinho em outubro pra mixar o disco.
Diogo: Bem, ele não só mixou como gravou o disco todo, foi um envolvimento bem maior. Acho que todos nós da banda somos muito fãs do Tortoise, e quando a gente foi descobrindo mais sobre o estúdio e os trabalhos que estavam sendo feitos lá, a gente pirou bastante nas possibilidades que tinham lá. Só a parte de sintetizadores e orgãos já me convenceu que lá seria um ótimo lugar pra gravar.
Márlon: Poxa, quando se escuta os discos do Tortoise dá pra sentir a atenção que o John dá aos detalhes, além das possibilidades sônicas que o estúdio dele disponibiliza. O cara é cobra. Mas ao mesmo tempo ele é bem imparcial, o papel que ele desempenhou no disco durante a gravação foi sempre com a postura de um engenheiro de som, que está lá pra deixar as opções disponíveis. Sem falar que a passos de distância do estúdio você consegue comer os melhores burritos imagináveis.

A repercussão do disco e da banda neste disco começou bem internacionalmente mas só agora estão para divulgar e lançar o disco no Brasil. Foi uma estratégia já elaborada ou foi do planejamento da Far Out?
Praxis:
Nem um, nem outro. Acho que o interesse inicial foi maior por lá, o que acaba ajudando as coisas por aqui.

Em diversas faixas Camila mistura letras em inglês e português. Foi algo para se encaixar nas melodias ou no processo de composição ela traz as letras primeiro?
Camila: No processo de composição, sempre trago as melodias primeiro. As letras vem depois. Da mesma forma que as melodias tem que “fazer sentindo” para mim, às vezes a letra faz mais sentido em inglês do que português. E vice versa. Acho natural misturar as duas línguas como mais um elemento dentro das músicas.
Márlon: Digo que foi muito bonito ver a Camila no estúdio compondo melodias ali na hora em cima da base instrumental, ela tem uma criatividade muito pura. A sensação que eu tive foi que ela entrou nas músicas do mesmo jeito que um bom instrumentista faria.
Praxis: Acho que a coisa do inglês vem do fato da Camila ter passado boa parte da infância e da adolescência no exterior, é uma coisa natural.

Pra divulgação do disco no país a partir de agora como vocês pretendem fazer, uma vez que é sempre complicado rodar o Brasil em turnês que não sejam roubada.
Márlon:
Boa pergunta. Acho que a intenção é tocar por aí, tem tanto festival legal acontecendo. Então, quando vai ser o festival Molotov mesmo?

Como se deu essa colaboração da banda com o Munha? Voces como musicos em Brasilia conseguem dialogar legal com uma galera das demais bandas daí?
Diogo:
Depois dele imobilizar e/ou finalizar todos os integrantes da banda com seus conhecimentos arcanos de MMA, ele nos convenceu de que era a pessoa que precisavamos pra ensaiar dinâmica e prestar atenção nos detalhes que eu não conseguia perceber pelos altos níveis de mate e tchoise no sangue. Quem não faz idéia de quem é o cara, ouça Satanique Samba Trio! O pior que pode acontecer é seu nariz sangrar (muito).
Praxis: O Munha foi o sétimo baixista da Nancy e nós dois percebemos que ele seria mais útil do lado de fora da banda, depois que ele saiu pra se dedicar ao quebra-faite do MMA. Ele nos ajudou muito com controles de dinâmicas e co-produziu o disco comigo. Além de arranjos de cordas, sopros, etc, ele teve também um papel de produtor executivo de boa parte desses arranjos extras, cuidando das gravações. O cara é sinistro. Em relação às outras bandas de Brasília, temos pouco contato.

E depois do destaque no site da MTV, vocês chegaram a obter um feedback legal de gente de outros lugares?
Diogo
: Minha tia-avó de Recife ligou dizendo que estava muito orgulhosa.
Praxis: Teve uma invasão de gente da Malásia no nosso Facebook! Mas acho que a maior repercussão foi aqui no Brasil mesmo.

Por fim, o que seria sexy no som da banda?
Márlon
: Bem, ainda não vi ninguém que não é do DF usando “fi” como pronome de tratamento, mas acho que vai chegar o dia. Ah sim, deve tava todo mundo lendo a banda como “SÉQUICI FAI”, não véi, somos o “SÉQUICI FI”. Já sobre o que tem de sexy na gente, acho que sacar nosso baixista Diogo é o suficiente pra responder (foto abaixo).

Website: https://www.facebook.com/sexyfimusic