Ouça o texto abaixo aqui:
Investigo práticas que tentam diluir o pensamento e os rigores acerca de estados fronteiriços. Busco em uma prática, fluxos presentes em corpos, estes não necessariamente humanos, mas que nos conduzem a aberturas diversas para continuarmos a travar encontros como pontos de estratégia.
“Fixidez é um território terrificante”
Cansada de vícios, me pergunto, como não esquecer de aproximar faíscas sem ultrapassar o tempo que não pertence a ninguém? Como poderia ser um vento que caminha, se transforma e deixa marcas? Trago a inquietação de Glissant, que a “fixidez é um território terrificante”. Ou seja, como continuar trabalhando espacialidade e movimentos de escapes, enquanto táticas históricas de povos negros e indígenas, sentindo o cerceamento através da militarização sobre o corpo migrante?
Desejo veicular por territórios com alto índices de corpos não-brancos uma maleta, um símbolo de espaço de fácil transporte criado, neste caso, para comportar proposições (que nomeio corpo-prisma), e que refratam a ferida colonial.
Caminho com corpos-prismas, materialidades que podem se emaranhar mesmo em distintas geografias. Possível telepatia com o que não se controla, uma recusa à noção de objeto inanimado.
Exercício de escoamento e tráfico de poéticas, onde a direção de quem a carrega propõe um desenho com o ambiente destinado, permitindo na contração tempoespaço um cruzamento entre organismos. Ativando diferenças entre narrativas aparentemente semelhantes.
Ariana Nuala (Recife | PE – 1993) é educadora, pesquisadora e curadora. Formada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco (2017), atuou na Coordenação do Educativo no Museu Murillo La Greca (2018 – 2020) e atualmente é assistente de curadoria do Instituto Oficina Francisco Brennand. Coordena com projeto independente a Plataforma e Residência Práticas Desviantes, e também é integrante e curadora dos coletivos CARNI (@carnicoletivo) e do Trovoa (@trovoa__). Combina estratégias que começam no corpo e se condensam em escrita e imagem. O exercício na curadoria é confluência artística e educativa, uma necessidade que tange seu caminhar. Em 2019 participou como residente do Valongo Festival e foi curadora da mostra Estratégias para o Contorno no XI ÚNICO pelo SESC PE.