Essa é uma thread sobre a história da Misty, uma boate que funcionou no Recife entre 1979 e 1993, sendo o primeiro grande empreendimento do tipo na cidade. O espaço marcou uma geração ao funcionar como um centro cultural que agregava discotecagem de música eletrônica, teatro, shows de transformistas e dança. Foi o nascedouro do polo da noite LGBTQIA + da capital, a Rua das Ninfas/Avenida Manoel Borba.
Há exatos 42 anos, em 5 de janeiro de 1979, era inaugurada na Rua do Riachuelo, em frente à FDR, uma boate pioneira em PE, seja na difusão do início da música eletrônica (clique no vídeo), performances e shows de "transformistas", mulheres trans, teatro queer e mais + pic.twitter.com/n3duHiCFaD
— Emannuel Bento (@emannuelbento) January 5, 2021
No @DiarioPE, quem cobriu a inauguração foi João Alberto. Ele chamou a Misty de Studio 54 (histórica boate de NY) recifense. Afirmou que o espaço fazia a cidade parecer menos com a província do passado e ainda prometeu não mencionar nomes, pois "não estamos ainda em NY". + pic.twitter.com/egDSXABfTD
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Em maio de 79, o DP publicou uma matéria afirmando que a Misty iria iniciar o "primeiro espetáculo permanente de travestis" da cidade, semelhante ao que rolava na Medieval, do RJ. O texto cita, no entanto, que até aquele momento nenhuma travesti teve entrada permitida na boate. + pic.twitter.com/KDEDrKNaT5
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Em setembro de 79, o sucesso da Misty foi um dos ganchos para uma reportagem de Fernando Machado sobre um tabu: “Homossexualismo: opção ou mal genético?”. Ele também cita boates gays recifenses Stock e Vogue (a música de Madonna só seria lançada 11 anos depois). + pic.twitter.com/K0iz4EKagK
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Em fevereiro de 1982, a Misty anunciou que estava se mudando para a então “pacata” Rua das Ninfas (na época, Rua das Nymphas). A casa da Rua do Riachuelo já estava pequena, pois a boate despertou muita curiosidade na cidade, atraindo também muitos héteros. + pic.twitter.com/RSmeJw1tlP
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Uma atração que fez bastante barulho na época foi Consuelo, com o show Mulheres com H. A presença da Misty na mídia acabou dando certa voz a uma parcela marginalizada na sociedade. Entrevista com Consuelo:
“Eu queria que o Brasil tivesse mil Robertas Close” + pic.twitter.com/yMMf0PXSkB
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Foi na Misty, no final dos 80, que Francisco (futuro Chico Science) promoveu a A Primeira Festa Hip Hop do Recife, com show de sua banda da época, a Orla Orbe. Clique na foto para ouvir o anúncio da festa nas rádios!
📷📻 Foto e áudio do acervo pessoal do DJ Elcy (Elcy Oliveira) pic.twitter.com/ijFgDnoe5h
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Em 30 de abril de 1989, a Misty recebeu o maior público de sua história (2 mil) para o lançamento do disco Like A Prayer, de Madonna. Os organizadores queriam exibir vídeos de uma fita cassete, mas o ambiente ficou tão úmido com o suor do público que o equipamento falhou. + pic.twitter.com/3mOfmKpoM0
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A Misty fechou as portas em 1993, depois que Fefé perdeu uma ação trabalhista para um segurança. Ele passou o ponto (que era alugado) como forma de indenização. O segurança não conseguiu gerir o negócio e a Misty fechou em questão de meses. + pic.twitter.com/0t3WrVd8OT
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Apenas em 2001 o local passou a abrigar o Clube Metrópole. Hoje, a Rua das Ninfas é o principal reduto da noite LGBTQIA+ no Recife, reunindo barzinhos e gente na rua. Mas nada disso surgiu do nada! Começou lá em 1982, com a chegada da Misty. + pic.twitter.com/sohkhR3H98
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DJ Tom Azevedo, entrevista ao DP em 2019: "Quando a Misty fechou foi como se tivessem tirado um coração musical da cidade. Todo mundo ia lá para entender quais eram as novas tendências musicais, pois não havia internet. As pessoas se fantasiavam, tinham uma identidade física". pic.twitter.com/UMA5FoU4sY
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É isso, pessoal. Foi um fio longo, mas são muitas histórias e nem deu para contar tudo. Entender o legado da Misty é também entender um pouco do passado do movimento LGBTQIA+ em PE. Quem gostou, fico feliz se puder dar RT e compartilhar o fio com amigos. Até a próxima. pic.twitter.com/jwP2z9A8oE
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Jornalista formado pela UFPE e repórter de cultura do Diario de Pernambuco, produz conteúdo sobre cultura e história no Twitter. Publica textos em formatos de threads, trazendo informações, imagens, vídeos e curiosidades históricas sobre Pernambuco.