A chanson atualizada, ao passo que ritmos contemporâneos e vozes diversas são assimiladas pelo público.
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Aos 25 anos, a artista mais tocada na França, Aya Nakamura, segue acumulando recordes. Nos últimos três anos, foi indicada pela imprensa gringa como uma das novas artistas mais influentes da música, e apenas em 2019, entrou na lista de “30 Under 30”, da revista Forbes, e foi indicada a Melhor Artista Internacional no BET Award. Com três discos de estúdio, não deixa a lista das músicas mais tocadas do país: só do disco Aya, lançado em novembro de 2020, ficou quatro semanas consecutivas no topo com “Jolie Nana”. O single seguinte, “Plus Jamais”, com participação de Stormzy, repetiu a conquista.
“Na França, o feminismo ganha cada vez mais importância na sociedade. Vemos mudanças na mentalidade e uma tomada de consciência”, comentou a jornalista Carole Boinet, da revista Les Inrockuptible à rádio pública, a RFI. No último ano, a presença feminina na música vem sendo discutida online por meio das tags #MusicTooFrance e #ChangeDisque, onde diversas profissionais estão se conectando e compartilhando as suas histórias.
Em paralelo à questão sexista, a cena se fragiliza com os impactos da epidemia. Segundo o levantamento da associação Tous Pour La Musique, “Estudo de impacto da Covid-19 na indústria da música”, publicado no ano passado, a estimativa é de uma perda de quase cinco bilhões de euros. A música ao vivo – casas de shows e eventos – é o segmento mais afetado, chegando a ter um prejuízo de mais de 80%. Sem turnês e festivais, os artistas precisam se reinventar e entender como trabalhar em um mundo digital.
Enquanto as chances das apresentações forem baixas, os videoclipes e as playlists acabam ganhando um maior espaço na relação das pessoas com a música. Então, neste caso, que tal conhecer alguns novos artistas francófonos para ficar de olho? A lista conta com nomes que possuem inspirações e origens distintas, mas que se destacaram nos últimos anos. Confira a seguir:
Para quem gosta de: M.I.A, Bad Bunny e Bad Gyal
Os números de Aya não mentem: são mais de dois bilhões de views no canal do Youtube, além de 18 milhões de plays mensais no Spotify, sendo que apenas Nakamura (2018), o seu segundo disco, conta com 1.5 bilhões de streams. Ela é a cantora francesa mais famosa no mundo. Nascida em Bamako, mudou ainda jovem para Paris, local onde solidificou o seu estilo musical, uma mistura de Afrobeat, R&B, Pop, e Zouk, um dos diferentes ritmos caribenhos. A faixa “Djadja”, de 2018″, ficou tão popular que recebeu versões em outras línguas: espanhol (Maluma), inglês (Afro B) e alemão (Loredana). No final de março deste ano, lançou “C’est Cuit”, uma colaboração com Major Lazer e Swae Lee.
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Para quem gosta de: Shura, Christine and the Queens, Lapsley
Nascida em 1994, na cidade de Namur, na Bélgica, a cantora e compositora escolheu Paris como cidade para trabalhar, lugar onde mora desde o início da década passada. Modelo e pintora, há três anos arriscou os primeiros passos no mundo da música com o EP Mojo (2018). Todo cantado em francês, Claire apresenta tracks ensolaradas e prontas para dançar, são canções delicadas, cheias de elementos Pop, e com alto teor escapista. Quando era criança, se apaixonou pelos CDs da Britney Spears, assim como escutava os discos de vinil do pai – Daft Punk, Pink Floyd, Fela Kuti e Sade. Coloridas e românticas, as chansons otimistas e açucaradas da artista expressam o que a própria gostaria de escutar para dançar. Em 2019, lançou o single “Nudes”, ao lado da cantora Yseult, e no ano passado, apresentou a divertida “Étrange Mélange”.
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Para quem gosta de: Catavento, Winter, Papisa
A parceria da cantora e da banda Boogarins começou no festival estadunidense SXSW, em 2017, e não demorou muito para os músicos colaborarem no estúdio. No ano seguinte, Laure apresentou o EP Coração Louco, com produção de Benke Ferraz, e letras em português. Agora em Eu Voo, trabalho lançado em fevereiro deste ano, reuniu os amigos brasileiros para gravar as seis músicas inéditas, todas cantadas na nova língua favorita. A compositora também soma três discos em francês e alguns singles em inglês. As novas composições foram gravadas no estúdio Dissenso, em São Paulo, antes do início da pandemia, em janeiro de 2020. “Eu Voo é sobre cruzar o oceano para encontrar a pessoa amada, e eu atravessei”, explicou Laure na nota de lançamento. Para a sonoridade do EP, uniu suas referências como Folk Pop e Garage Rock, aos novos amores – Bossa Nova, Samba, Tropicalismo e Psicodelia. Inclusive, para o registro, a artista também conta com colaborações de artistas da nova cena nacional, Giovani Cidreira em “Supertrama”e Gabriela Terra (My Magical Glowing Lens) em “Respire”.
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Para quem gosta de: Hater, Grimes, Electrelane
Multi-instrumentista, arranjadora, produtora e compositora, Léonie Pernet colaborou em diferentes projetos até lançar a sua estreia solo, o álbum Crave (2018). As doze faixas circulam a atmosfera de uma longa noite, com direito a climas e moods transitando entre o Synth Pop e o Dream Pop, em letras inglês e francês. Entre as suas referências estão nomes como Klaus Nomi, Philip Glass, Aphex Twin e Caribou. No início da década passada, a artista, muçulmana e queer, era uma das organizadoras da festa LGBTQI+ Corps vs Machine em Paris. Nessas noites, seu set era recheado de tracks de Techno, Minimal e Dark. A influência do som eletrônico aparece desde o seu primeiro lançamento: o EP Two of Us (2014), em “Tutuguri”, assim como em suas pesquisas mais recentes, como na faixa “Steve”, uma parceria com o produtor Jumo, lançada em maio do ano passado.
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Para quem gosta de: Phoenix, The Marías e Parcels
https://www.youtube.com/watch?v=sELxgrgaQUk
Há quase uma década na cena independente, o sexteto francês lançou o segundo disco no final de março, Tako Tsubo – “a síndrome do coração partido”. As 13 músicas transitam entre a Disco Music e o Indie Pop, com grandes oscilações de moods, acompanhados do vocal suave de Flore Beniguini. A imprensa internacional tentou definir o som do grupo como o encontro entre “Lana Del Rey e George Clinton”, sem contar as referências à Daft Punk, Stereolab e Parcels. No novo disco, os músicos se inspiraram nos vocais ASMR de Billie Eilish, então há um destaque maior para a voz de Flore. O Dream Pop, com doses de Funk Music, ganha mais vida com a estética intergaláctica, porém nostálgica. A mistura acompanha o clima das novas canções: românticas, melancólicas, e esperançosas.
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Para quem gosta de: Okay Kaya, Jessie Ware e Letrux
Filha da atriz Valérie Stroh e do trompetista Eric Le Lann, a atriz e cantora estreou aos 19 anos no cinema, ao viver o par romântico de Vincent Cassel no filme Doce Veneno (2016), do diretor Jean-François Richet. O debut no mundo da música aconteceu em 2019, com o single “Lola à l’eau”, seguido do EP Glaz, todo cantado em francês, e lançado em junho do ano passado. A voz suave de Lola lembra o estilo de Vanessa Paradis, enquanto o grave e as batidas das músicas flertam com o revival da Disco Music, algo muito comentado em 2020, graças aos trabalhos das cantoras Dua Lipa, Róisín Murphy e Jessie Ware. O lançamento do seu primeiro disco, 45T., estava marcado para outubro do ano passado, mas foi postergado por tempo indeterminado após um dos colaboradores ser acusado – e mais recentemente condenado – de abuso sexual. Nos meses seguintes, a decisão despertou os movimentos #ChangeDeDisque e o #MusicTooFrance, onde centenas de mulheres compartilharam os seus relatos de assédio vividos na indústria musical francesa.
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Para quem gosta de: Abra, Kelela, Solange
Parisiense, mas radicado em São Paulo desde 2015, quando veio fazer um mestrado em comércio internacional na USP, Loïc Koutana logo se tornou conhecido no circuito fashion e na cena Techno, graças ao seu trabalho como performar. Desde 2019, lançou quatro singles solo com produção de Pedro Zopelar, seu parceiro de Teto Preto – “Braços/Vela”, “Egoísta”, “Sai Do Meu Caminho” e “Desejos”. O primeiro disco, Ser, também está finalizado, mas não tem data de lançamento. Como comentado em entrevista ao site FFW, as faixas, cantadas em francês e português, “falam sobre temas como amor livre, medo, empoderamento e o que é ser preto para mim, um jovem LGBTQI+ de 25 anos”. A sua paleta sonora conta com os ritmos dos países em que viveu – França, Costa do Marfim e Brasil – , assim como se interessa por R’n’B, Jazz e Rap.
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Para quem gosta de: Megan Thee Stallion, Ebony, Tasha e Tracie
Com apenas uma mixtape solo na bagagem, mas uma porção de créditos como compositora para outros rappers, em 2020, Meryl foi indicada na categoria Melhor Flow Internacional da premiação BET Hip Hop Awards, ao lado de nomes como Djonga e Stormzy. Em fevereiro do ano passado, a cantora apresentou Jour Avant Caviar, o seu trabalho de estreia com doze faixas que transitam entre Rap, Trap e Dancehall. Melódico e elaborado, o trabalho também reúne os singles lançados nos últimos anos, como “Beni”, de 2019. Nascida Cindy Elismar, a artista começou a colaborar com outros rappers locais, caso de Specta, que a convidou para assinar como ghostwriter. Não demorou muito para a letrista logo se tornar requisitada, assinando versos para nomes como Soprano e Niska.
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Para quem gosta de: Waxahatchee, Jess Williamson, Faye Webster
Nascidos em Bruxelas e melhores amigos de infância, o pintor Lewis Lazar, e o matemático, Christopher Willatt, deram muitas voltas até se encontrarem de novo. Dessa vez, escolheram Paris como casa para arriscar uma carreira na música. A aposta logo deu certo, e em 2017 começaram a soltar faixas cantadas em inglês. O universo nostálgico, mas atualizado, é recheado de sonoridades Folk, Blues e Indie, com um toque especial de Dream Pop. Desde 2019, contam com a artista finlandesa Julia Johansen nos vocais e na bateria. Como trio, se esconderam em um chalé no sul da França para compor o EP Paris I (2020), local onde também gravaram a continuação, Paris II, com lançamento para o dia sete de abril. A descrição de “The Dandelion”, single lançado em dezembro passado, diz que “a inspiração vem do canto de Chet Baker com um uma batida de Disco atrás”.
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Para quem gosta de: Julia Holter, Soko e Kate Nash
Românticas, alegres e vibrantes, as músicas da cantora e artista visual Pauline de Tarragon possuem um elegante filtro vintage. Prestes a lançar o seu segundo disco, agora todo em francês, mostrou uma prévia em fevereiro com o single “Bisou”, uma divertida balada Indie. Seu estilo é influenciado por cantoras francesas como France Gall, Françoise Hardy e Jane Birkin, assim como nutre uma paixão pela sonoridade de bandas clássicas como The Doors e Jefferson Airplane. Em 2014, aos 16 anos, participou do programa de televisão “La Nouvelle Star” – o show de talento deles –, mas não ganhou o primeiro lugar, entretanto descolou o contato de Axel Concato, o produtor que a ajudaria a tornar as suas ideias musicais em realidade. A dupla estreou com o EP Radio Girl (2016), seguido dos singles “Ponytail” e “Family”, e trabalharam no disco Nice to Meet U (2019). Em entrevista à revista canadense Spill Magazine, Pauline disse que o retorno ao idioma de origem foi um processo natural: “Sentia falta do francês quando estava no palco. Na turnê com a Superorganism, fizemos um cover de ‘Je T’aime… Moi Non Plus'”.
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Para quem gosta de: Clairo, Metronomy e Tops
Antes mesmo de lançar a primeira música, “Amour Plastique”, em 2018, o canal da atriz e youtuber Adèle Castillon já somava 600 mil subscrições. O resultado da primeira composição ao lado do namorado Matthieu Reynaud, soma hoje mais de 60 milhões de views. O primeiro disco, Euphories, lançado no final de janeiro – e cantado em francês – reúne alguns singles já lançados, como “Roi”e “Mai”, assim como reforça a proposta oitentista do duo. O casal de 19 anos não estava vivo na década de 1980, mas são inspirados pela estética, texturas e sintetizadores da época. Os videoclipes trabalhados em imagens nostálgicas e filtros analógicos, tem a ver com o universo construído pelos namorados. “Doce, fácil de escutar. A rua, os beijos, o mar… A beleza de uma relação”, explicaram sobre os visuais em entrevista ao site espanhol MOR.BO. As letras falam sobre as emoções e decepções do amadurecimento, com direito ao primeiro amor, as angústias da saída da adolescência e as reflexões sobre a vida adulta. A lista de músicas favoritas do duo conta com nomes como Mac Demarco, The Weeknd, Tame Impala e Chromatics.
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Para quem gosta de: Sango, VHOOR e Kaytranada
Na virada do milênio, Wealstarr escutou “Swing da Cor”e se apaixonou pela música em português, graças à namorada brasileira do irmão mais velho. O caso de amor se intensificou na última década, então não demorou muito para chegar no Cassiano, no som do Olodum e nas batidas do funk carioca. Conhecido na cena francesa como produtor musical e DJ de Hip Hop e Rap, decidiu investigar a música dos bailes brasileiros para compor o som de Gratidaoh, seu primeiro disco, lançado em fevereiro deste ano. Segundo o próprio artista, o trabalho explora as possibilidades do Chill Baile, com vocais de funk e som eletrônico. Entre as outras referências das onze faixas estão o grupo de Soul Quinteto Ternura e o músico mineiro Flávio Venturini, assim como também se debruçou na discografia do The Neptunes, onde focou especialmente nas baterias. Essa não é a sua primeira vez em território nacional, ainda tímido, havia lançado algumas faixas nos EPs ITB3 (2017) e Bossa Nova (2019) – “Maracana” e “Salvador, respectivamente.
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Confira aqui a playlist desta lista:
Jornalista com passagens pelas redações da MTV Brasil e das revistas ELLE, L’Officiel e Gama. Escreve sobre música no site Monkeybuzz. Fundadora e editora da Revista Balaclava.
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Este conteúdo tem o apoio da Embaixada da França no Brasil e do Consulado Geral da França no Recife.