A partir do contexto em que estamos vivemos, artistas das mais diferentes áreas vêm criando novas maneiras de colaborar e construir cultura na contemporaneidade. Essas formas de elaboração artística consequentemente fazem surgir também maneiras outras de veicular esses trabalhos, principalmente no momento em que a plataforma do virtual se torna o principal ambiente expositivo dessas criações. Mas que outras chaves, modos, percepções, o ambiente digital pode nos oferecer quanto potencializador artístico?
Criamos, então, um catálogo de web site infinito cuja curadoria tem como foco multi artistas e artistas multimídia, principalmente residentes no território pernambucano, que representam a nova gama de uma cena que é fruto do seu tempo e de discursos emergentes.
As obras audiovisuais curadas se baseiam no experimental, tanto na manipulação digital como na perspectiva do corpo. No catálogo, as obras se intercalam a partir de facetas do ambiente digital como mote expográfico, tendo como referência programações digitais que remetem a era digital do início dos anos 2000. Nos shows, o toque da percussão e o flow dos beats estão presentes entre as apresentações sensíveis e dançantes presentes nesta edição. O objetivo é ampliar a visão acerca da multiplicidade de linguagens sonoras que podem decorrer de uma identidade política, na tentativa de retirar esse fetiche na tragédia e legitimar o que está intrínseco ao trabalho desses artistas.
De maneira inédita, textos feitos por entusiastas, pesquisadores e produtores também estão presentes, trazendo a historicidade das vertentes artísticas, a relação das plataformas áudio e visuais e sobre os processos possíveis de curadoria. Nas oficinas e falas em nosso catálogo, artistas de áreas de atuação distintas se experimentam através de vídeos tutoriais, webinar e entrevista, a fim de apresentar suas trajetórias no ramo artístico e os processos criativos relacionados às linguagens presentes na curadoria.
Todos os trabalhos curados foram construídos no contexto pandêmico. Trabalhar com sensibilidade em um ambiente caótico reflete em nossas criações. Porém, é inegável dizer que sempre existiram também corpos em contextos de quarentena, entre o caos. Artistas que se utilizam da própria dissidência para articular dores e ficções quanto instrumento de auto reconhecimento, de respiro de vida. A criação artística, assim, se relaciona como um pulso que corre entre os atravessamentos da pessoa artista. A curadoria dessa maneira, na tentativa de não estereotipar, se propõe quanto à mediação desses atravessamentos.
Os conhecidos formatos de transmissão ao vivo vêm tentando replicar apresentações que se aproximem das experiências físicas. Porém, decidimos conceber um portal que pudesse dar a esses trabalhos, espaço para uma construção intencionalmente direcionada para a plataforma. Dessa maneira, as criações surgem para o virtual, com a ideia de construir uma experiência interativa, com conteúdos que criam diferentes diálogos entre si, trazendo ao público um ambiente de descoberta.
A velocidade das interações e a necessidade de lidar com o complexo nos demandam proposições híbridas. A ideia é atiçar o público através da colisão entre linguagens, pensando processos artísticos que mixam fluxos diferentes de criação e que assim, chegam em produtos únicos. A mesma internet que surge de uma estratégia militar em meio a guerra, é ressignificada a partir da construção de uma plataforma acessível que traz a potência no que tange o novo.
Libra, Co Curadoria da 2ª Edição do Coquetel Molotov EXE